Diante do que tenho passado, meu clima é de cansaço,
tristeza, raiva, ódio, muito ódio e mais tristeza. Estou mega cansado desse mundo. Minha vontade
essa noite por alguns momentos foi de morrer mesmo, porque fui percebendo que
muita coisa não tinha jeito. E eu que tentava salvar um pedaço do mundo pra que
a próxima geração pudesse vir a ter uma felicidade mais plena que a minha
perdia a esperança dentro daquele ônibus, voltando pra casa.
Primeiro, a respeito da minha condição de gay. As coisas não
tem jeito, é toda hora alguém apanhando por ser gay e eu sendo obrigado a ler e
ouvir coisas sem noção e sem respeito algum a individualidade do outro,
garantida pela constituição, fundadas em discursos baratos, elitistas, excludentes
e fundamentalistas. Isso tudo me dá um
profundo desgosto com a vida, com as coisas que posso conquistar, com o desejo
de ter alguém ao meu lado e poder ser quem eu sou e onde eu quiser, sem ferir a
liberdade alheia, lógico. Acho que nem a próxima geração viverá isso. Vou lutar
para que a quinta ou sexta geração após a minha possa viver um tiquinho disso.
A vida é uma barreira suave. Você vem, existe durante um
tempo, e depois morre. Meu pai hoje está num leito de um hospital, com câncer e
eu estou aqui, triste com isso, mas sem conseguir chorar. O clima é sempre
tenso: a cada visita, um dos pacientes do hospital morre, e rapidamente. Gente que
a minha mãe que passa um certo tempo no hospital conhece inclusive. Toda essa
soma de coisas, me gera uma terrível sensação de fragilidade e medo. É difícil
ver uma pessoa que sempre foi forte, estar passando por isso, desse jeito...
Tenho bebido bastante quando saio. Minha intenção é
espairecer, estar bem pelo menos por alguns momentos, sei que não resolve, sei
que é um vício, mas foda-se. Meus amigos sempre que podem estão por perto,
ainda que a sensação de solidão seja algo sem solução pra mim. Sempre lidei bem
com a solidão, porém agora tá insustentável. Não é apenas uma solidão de
contato, mas uma solidão de silêncio, de não poder contar coisas suas, de não
deixar sua alma brilhar...
Hoje conversei com a direção da escola onde trabalhei sobre
o fechamento da oficina que eu dava de artesanato. Fui jogado numa turma nova,
numa aula que não funcionou e eu perdi o controle. Julgaram-me quando coloquei pro aluno que
derramou tintas no chão e estragou o trabalho dos colegas propositalmente que a
mãe dele não tinha dado educação a ele. Aff,
pensar no aluno, pensar no aluno... Será mais uma coisa que eu não sirvo pra
fazer? Que eu não “nasci” pra fazer? Bom, na mesma escola uma das professoras está
respondendo um processo por ter dito a mesma coisa que eu. Não tô tão mal assim.
Caiu a ficha de que estou com 27 anos, não fiz nem a metade das coisas que eu gostaria, não defini nada concreto em relação a minha carreira, escondo minha personalidade de algumas pessoas, perdi tempo, e já não sou mais o menino de antes. Ainda que digam que estou novo, meus cabelos caem, minha aparência não é a mesma de 5 anos atrás. Não quero mais perder tempo. Estou chorando pelo leite derramado. Cansei.
Hoje foi definitivamente um dia de merda. E eu não consigo
chorar, não tenho com quem beber, nem com quem estar pessoalmente, tô puto com
a vida, meu quarto tá uma zona, não tenho ar condicionado e tá um calor de
matar. Tudo que me resta essa noite é um
bom banho, que sorte a minha! Coloquei isso no final só pra não dizerem que não
vejo o lado bom das coisas.